Em
2013, o centenário de Vinicius de Moraes. O poeta coloquial, o Poetinha,
apelido que gostava, mas que foi dos grandes de nossa poesia moderna, um lírico
inovador. A incursão pelo cancioneiro fez dele, o mais popular dos
modernos. A simpatia pela cultura e causas populares, somadas a uma vida
boêmia e intensamente romântica, custou-lhe a cassação da carreira diplomática.
A ditadura que emergiu do moralismo hipócrita udenista e os seguidores de
marchas do reacionarismo carola não admitiam o poeta "devasso", de
tantos casamentos - como se devassos procurassem casamento - e o acusaram de
desídia nas suas funções públicas. São poucos, o Barão e mais alguns, que
projetaram uma imagem externa tão positiva do Brasil, no exercício da diplomacia,
imagem que a ditadura enegrecia. Fez isso abandonando os salões, frequentando
gloriosos pés-sujos e cantando as coisas mais lindas que via passar.
Quem
foi Vinicius de Moraes?
O
biógrafo de Vinicius, José Castello, autor do excelente livro "Vinicius de
Moraes: o Poeta da Paixão - uma biografia" nos diz que o poeta foi um
homem que viveu para se ultrapassar e para se desmentir. Para se entregar
totalmente e fugir, depois, em definitivo. Para jogar, enfim, com as ilusões e
com a credulidade, por saber que a vida nada mais é que uma forma encarnada de
ficção. Foi, antes de tudo, um apaixonado — e a paixão, sabemos desde os
gregos, é o terreno do indomável. Daí porque fazer sua biografia era obra
ingrata.
Dele
disse Carlos Drummond de Andrade: "Vinicius é o único poeta brasileiro que
ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado
natural". "Eu queria ter sido
Vinicius de Moraes". Otto Lara Resende assim o definiu: "Manuel
Bandeira viveu e morreu com as raízes enterradas no Recife. João Cabral continua
ligado à cana-de-açúcar. Drummond nunca deixou de ser mineiro. Vinicius é um
poeta em paz com a sua cidade, o Rio. É o único poeta carioca". Mas ele
dizia nada mais ser que "um labirinto em busca de uma saída".
O que
torna Vinicius um grande poeta é a percepção do lado obscuro do homem. E a
coragem de enfrentá-lo. Parte, desde o princípio, dos temas fundamentais: o
mistério, a paixão e a morte. Quando deixa a poesia em segundo plano para se
tornar show-man da MPB, para viver nove casamentos, para atravessar a vida
viajando, Vinicius está exercendo, mais que nunca, o poder que Drummond
descreve, sem conseguir dissimular sua imensa inveja: "Foi o único de nós
que teve a vida de poeta".
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